segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Aspectos ecológicos das plantações de Pinus no Sul do Brasil

FONTE: Adaptado de Miller, (1984).


A implantação de povoamentos de pinus no Sul da Brasil teve início há mais de 30 anos. Ocorreu a partir de incentivos do governo à produção de madeira para atender a demanda da indústria e substituir o uso de madeira de espécies nativas como a araucária. As primeiras espécies introduzidas foram o Pinus taeda, para produção de matéria-prima para as indústrias de celulose e papel; e Pinus elliottii, para madeira serrada e extração de resina (Embrapa, 2005). No Brasil, de acordo com (ABRAF, 2008), a área total de pinus plantada é 1.808.336 hectares, sendo que os estados da região Sul correspondem a 79% dessa área, ou seja, são 1.431.993 hectares plantados. O Paraná tem a maior participação, com 39%; seguido de Santa Catarina, com 30%; e Rio Grande do Sul, com 10%. Diante desses números, destaca-se a relevância em conhecer as implicações ecológicas das diferentes espécies plantadas. Se numa ponta deste cenário há a demanda pela produção de madeira, em outra há a demanda pelo manejo sustentável de plantações, o que envolve outros aspectos além do econômico: o social, o cultural e o ecológico, sendo esse último o atual foco de discussão. Infelizmente, existe uma vasta falta de informações técnico-científicas a cerca do uso de recursos hídricos pelas plantações. Os recursos florestais estão inter-relacionados de forma dinâmica com os ecossistemas, e variam conforme as características regionais. Assim, o conhecimento científico dessas relações permite avaliar as melhores alternativas de manejo dos plantios, principalmente a caracterização de sítio, bem como a dinâmica nutricional, a ciclagem de nutrientes, a água usada, e a biodiversidade da fauna, do solo, entre outros. A ciclagem de nutrientes está atrelada ao manejo do estoque de nutrientes minerais no solo e da produção de biomassa dos plantios de pinus. A análise do ciclo de nutrientes em florestas e plantações é feita através da compartimentalização da biomassa (folhas, galhos, madeira de tronco e de casca, raízes, serapilheira e vegetação do subosque) acumulada nos diferentes estratos ou fases de desenvolvimento da floresta, e da quantificação de nutrientes que se movimentam entre seus compartimentos. Na floresta, parte dos nutrientes é proveniente da entrada de poeiras, aerossóis e da chuva, e são parcialmente absorvidos pelas folhas. Os nutrientes que atingem o solo são oriundos da lavagem das copas, devido à lixiviação de metabólitos e exudados dos tecidos das plantas, das partículas em suspensão no ar e dos nutrientes contidos na própria água da chuva. Outras fontes importantes de nutrientes, as quais também reabastecem o solo, são procedentes da decomposição de vegetais, de animais e da lavagem da serapilheira pela chuva. Assim como a caracterização dos fluxos de nutrientes, o conhecimento do ciclo hidrológico permite escolher as melhores técnicas de manejo para a conservação dos recursos hídricos. Para se entender o  funcionamento desse ciclo, são necessárias pesquisas de monitoramento de longo prazo sobre quantificação e caracterização da água da chuva e sua interação com a floresta ou plantação. Quando chove, parte da precipitação é retida pelos arbustos e árvores e retorna para a atmosfera na forma de vapor; a outra parte passa pelos espaços entre as folhas e as copas, ou alcança o solo após escoar pelas folhas, ramos e troncos. Em um estudo em um povoamento de Pinus taeda na região dos Campos de Cima da Serra (RS). Equipamentos para a coleta de água da chuva, da solução do solo e para o monitoramento da umidade do solo foram alojados dentro do povoamento e em uma área adjacente. O estudo está entrando no terceiro ano e já apresenta resultados significativos. Dentre os resultados mais expressivos, destacam-se o aporte de substâncias pela brisa marinha – devido à proximidade da área em estudo com o litoral, aproximadamente 50 km. Os elementos Na+ (Sódio) e Cl- (Cloro) estão presentes em grandes quantidades, tanto nas amostras de água do povoamento como nas do campo. A entrada de Na+ na floresta é de 35,66 kg ha-1 ano-1 (quilograma por hectare x ano), e no campo é de 36,46 kg ha-1 ano-1. Já o aporte de Cl- é de 36,49 kg ha-1 ano-1 na floresta de pinus e de 42,65 kg ha-1 ano-1 no campo. Outro elemento que se destaca é o K+(Potássio), apresentando uma contribuição de 11,36 kg ha-1 ano-1 no campo, tem, porém, uma entrada de 17,96 kg ha-1 ano-1, no povoamento de pinus. Esses resultados mostram que o conteúdo do elemento encontrado nas amostras da floresta é resultante da ciclagem do elemento entre a planta e o solo, pois na planta, o K+ se encontra na forma iônica livre, não associada com outras substâncias, e é fortemente lixiviado da vegetação para o solo pelas águas das chuvas. Deste modo, o conhecimento sobre a dinâmica nutricional do uso da água no desenvolvimento de um povoamento e do grau de utilização da colheita permite quantificar a exportação de nutrientes, bem como adotar medidas no sentido de conservar a fertilidade do solo e determinar o tempo de rotação da cultura. Portanto, para a manutenção do estoque de nutrientes, é recomendado o planejamento da reposição nutricional, o descasque da madeira no campo e a permanência dos resíduos, galhos, acículas e da serapilheira no campo. Assim, conhecendo a capacidade de suporte do solo e a resiliência do sítio através do estudo dos processos biogeoquímicos, os efeitos ecológicos adversos podem ser evitados. Dessa forma, é dada a minimização de impactos ambientais na busca da conservação do solo e dos recursos hídricos quando as técnicas silviculturais utilizadas estão adaptadas às características dos ecossistemas locais. Considerando os fatores ambientais relacionados às diferentes espécies arbóreas (exóticas e endêmicas) e aos preceitos de sustentabilidade, o manejo florestal para ser sustentável necessita de pesquisas científicas e medidas adaptativas contínuas, principalmente os estudos de aspectos hidrológicos, nutricionais e biológicos de plantações para fins econômicos.

Referências bibliográficas
EMBRAPA FLO RESTAS. A Importância das Florestas Plantadas Para o Brasil. Sistemas de Produção, n. 5. Colombo, 2005.
ABRAF. Anuário Estatístico da ABRAF: ano base 2007. Brasília, p. 21, 2008.

FONTE DO TEXTO: SCHUMACHER, M. V. ; LOPES, V. G. ; GRIEBELER, C. . Aspectos ecológicos das plantações de Pinus no sul do Brasil.. Letras da Terra, Porto Alegre - RS, p. 10 - 11, 01 mar. 2009.